O Atlético-MG conseguiu quitar os salários atrasados do elenco nesta quarta-feira, 23 de julho de 2025, em uma tentativa de aliviar a crise financeira que assombra o clube. A ação, liderada pelo sócio majoritário da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), Rubens Menin, envolveu o pagamento de direitos de imagem e férias vencidas no dia 20 de julho. A medida ocorreu na Arena MRV, em Belo Horizonte, antes de uma reunião marcada com os jogadores para discutir pendências, como luvas, que ainda não foram resolvidas. A crise, agravada por uma dívida de R$ 1,8 bilhão, reflete os desafios enfrentados pelo clube após sua transformação em SAF, em 2023. O objetivo é buscar um aporte financeiro de pelo menos R$ 500 milhões para equilibrar as contas, enquanto torcedores protestam contra a gestão atual.

O movimento para regularizar os atrasados veio após pressões internas e externas. Jogadores como Rony, Guilherme Arana e Gustavo Scarpa chegaram a notificar o clube extrajudicialmente por atrasos em direitos de imagem e premiações. A insatisfação também ganhou as ruas, com cerca de 50 torcedores exibindo faixas de protesto na Arena MRV. A situação reflete um cenário delicado, com o clube precisando de soluções urgentes para evitar novos conflitos e manter a competitividade no cenário esportivo.

A gestão da SAF, liderada pela Galo Holding, tenta agora captar recursos para sanar dívidas acumuladas, que incluem não apenas compromissos com o elenco, mas também pendências com outros clubes e agentes. Enquanto isso, o Atlético se prepara para enfrentar o Atlético Bucaramanga, da Colômbia, em jogo decisivo pelos playoffs da Sul-Americana, na quinta-feira, 24 de julho.

  • Principais pendências quitadas: salários, direitos de imagem e férias.
  • Ações judiciais: Rony chegou a pedir rescisão contratual, mas recuou após negociações.
  • Protestos: torcedores cobram transparência e eficiência da SAF.
  • Dívida atual: cerca de R$ 1,8 bilhão, com projeções de até R$ 2,3 bilhões por especialistas.

Reunião na Arena MRV

Na tarde de quarta-feira, a cúpula da SAF, incluindo Rubens Menin, reuniu-se com o elenco na Arena MRV para esclarecer a situação financeira e alinhar expectativas. A conversa buscou acalmar os ânimos após notificações extrajudiciais de jogadores como Guilherme Arana, Gustavo Scarpa e Igor Gomes, que cobraram atrasos em direitos de imagem e premiações. A quitação dos valores vencidos foi um passo para evitar novas ações trabalhistas, mas as luvas, que são bônus contratuais pagos na assinatura de contratos, continuam pendentes para alguns atletas.

A reunião também abordou o desempenho do time, que enfrenta críticas pela campanha irregular em 2024. Apesar de conquistas como o Campeonato Mineiro, o Atlético terminou o Brasileirão em 11º lugar e perdeu a final da Copa Libertadores para o Botafogo. A pressão por resultados esportivos se soma à necessidade de estabilidade financeira, o que torna a gestão da SAF um desafio constante.

A origem dos recursos

O pagamento dos atrasados foi viabilizado por um aporte de Rubens Menin, principal acionista da Galo Holding, que detém 75% da SAF. Menin, junto com seu filho Rafael, controla 41,8% das ações, enquanto outros acionistas, como Ricardo Guimarães e Daniel Vorcaro, também integram a estrutura societária. O aporte emergencial, embora tenha aliviado a situação imediata, não resolve o problema estrutural das finanças do clube. Em junho de 2025, Rafael Menin reconheceu publicamente que a dívida do Atlético permanece “superalta”, mesmo após a conversão em SAF.

A Galo Holding tem buscado novos investidores para injetar recursos no clube. Em 2024, a SAF captou R$ 105 milhões em debêntures, uma operação pioneira entre clubes brasileiros, destinada a alongar o perfil da dívida e reduzir a pressão sobre o caixa. No entanto, os juros elevados, na casa de CDI mais 4%, continuam a encarecer os compromissos financeiros do Galo.

Protestos da torcida

Por volta das 15h10 de quarta-feira, cerca de 50 torcedores se reuniram em uma das entradas da Arena MRV, exibindo faixas com críticas à gestão da SAF. Frases como “O Galo virou SAF pra quê?” ecoaram o descontentamento de parte da torcida, que questiona os resultados da transformação do clube em empresa. A insatisfação reflete a percepção de que a SAF, implementada em 2023, ainda não trouxe a estabilidade financeira prometida, apesar de avanços como a inauguração da Arena MRV e o aumento de receitas com bilheteria.

Os torcedores também cobram maior transparência na administração. A Arena MRV, inaugurada em agosto de 2023, gerou R$ 97 milhões em bilheteria e R$ 11 milhões em receitas diversas em 2024, mas os custos de manutenção e as dívidas relacionadas à sua construção ainda pesam nas contas do clube.

Dívida bilionária em foco

O balanço financeiro de 2024 revelou um prejuízo de R$ 300 milhões para o Atlético, com uma dívida total estimada em R$ 1,8 bilhão. Um relatório do economista César Grafietti, no entanto, aponta um valor ainda mais alarmante: R$ 2,3 bilhões. Segundo o especialista, o clube precisaria de 19 a 22 anos para quitar esse montante sem novos aportes. A situação é agravada por dívidas com bancos, que totalizam R$ 507 milhões, e compromissos relacionados à Arena MRV, que somam R$ 446 milhões.

  • Principais componentes da dívida:
  • Empréstimos bancários: R$ 507 milhões.
  • Arena MRV: R$ 446 milhões.
  • Outras pendências: dívidas com clubes, agentes e comissões.

A redução de R$ 724 milhões na dívida líquida em 2023, viabilizada por aportes de acionistas e pela venda de 49,9% do Diamond Mall por R$ 335 milhões, foi um avanço, mas insuficiente para equilibrar as contas. O clube agora busca um aporte de pelo menos R$ 500 milhões, que pode vir de novos investidores ou dos atuais acionistas.

Mudança na cláusula anti-diluição

Para atrair novos investimentos, o Atlético planeja alterar a cláusula anti-diluição, que protege a participação de 25% da associação do clube na SAF. Uma reunião do Conselho Deliberativo, convocada por Ricardo Guimarães, está marcada para 4 de agosto de 2025, para discutir a proposta. Caso aprovada, a participação da associação pode ser reduzida para 10% ou menos, dependendo do volume do aporte, que deve ser de no mínimo R$ 200 milhões.

A alteração visa facilitar a entrada de capital via aumento de capital e emissão de novas ações. A medida, embora necessária para a saúde financeira do clube, gera debates entre os conselheiros, que temem a perda de influência da associação na gestão da SAF.

Pendências com outros clubes

Além das questões com o elenco, o Atlético enfrenta dívidas com outros clubes, relacionadas a parcelas de contratações de jogadores. Um exemplo é o caso de Deyverson, cuja transferência gerou atritos com o Cuiabá. O presidente do clube mato-grossense, Cristiano Dresch, acionou o Banco Central para investigar as finanças de Rubens Menin, alegando inadimplência do Atlético. Essas pendências reforçam a percepção de desorganização financeira e aumentam a pressão por soluções de longo prazo.

Desempenho em campo

A crise financeira não é o único desafio do Atlético. Em 2024, o clube teve um desempenho esportivo aquém do esperado, terminando o Brasileirão na 11ª colocação e perdendo a final da Copa Libertadores. Apesar do título do Campeonato Mineiro contra o rival Cruzeiro, a ausência na Libertadores de 2025 preocupa a diretoria, já que a competição representa uma fonte significativa de receitas. O jogo contra o Atlético Bucaramanga, pela Sul-Americana, é visto como uma oportunidade para recuperar a confiança da torcida e avançar no torneio continental.

Busca por novos investidores

A SAF do Atlético tem intensificado esforços para captar recursos no mercado. Em 2023, a venda de 75% das ações da SAF para a Galo Holding, por R$ 913 milhões, foi a maior operação do tipo no futebol brasileiro. No entanto, o clube ainda depende de aportes para manter a competitividade. A possibilidade de um novo investimento, estimado entre R$ 500 milhões e R$ 800 milhões, é vista como essencial para reestruturar as finanças e evitar novos atrasos salariais.

Transparência e governança

A adoção do padrão International Financial Reporting Standards (IFRS) pela SAF, em 2024, foi um passo para reforçar a transparência e a governança. O clube divulgou um relatório de gestão detalhando receitas recordes de R$ 674 milhões em 2024, impulsionadas por patrocínios, como o acordo de R$ 60 milhões anuais com a H2bet, e vendas de atletas, que renderam R$ 183 milhões. Apesar desses números, os custos elevados e os juros das dívidas continuam a limitar o impacto positivo dessas receitas.

O Atlético agora se concentra em equilibrar as finanças e manter a competitividade em campo. A reunião do Conselho Deliberativo, marcada para agosto, será decisiva para definir o futuro da SAF. A possível diluição da participação da associação e a entrada de novos investidores são medidas que podem transformar a realidade financeira do clube, mas exigem consenso entre os acionistas e apoio da torcida.

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Redação

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