Nova tarifa dos EUA impacta exportações: café e carne podem ficar mais baratos

café

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que entra em vigor em 1º de agosto de 2025, promete alterar o cenário econômico do país, impactando setores como café, carne, petróleo e aço. Anunciada como resposta comercial, a medida afeta diretamente as exportações para o segundo maior destino dos produtos brasileiros, com um volume de US$ 22 bilhões no primeiro semestre de 2024. Setores agropecuários e industriais enfrentam desafios, mas o aumento da oferta interna pode reduzir preços de itens como café e carne bovina. O governo brasileiro avalia estratégias, enquanto economistas alertam para possíveis pressões inflacionárias e impactos no câmbio. A tensão comercial exige adaptações rápidas para minimizar perdas.

O mercado financeiro reagiu à notícia com alta do dólar, que fechou a R$ 5,54 em 10 de julho de 2025, refletindo incertezas. Setores como o agronegócio, que depende fortemente dos EUA, buscam alternativas para redirecionar produtos.

A possibilidade de retaliação brasileira, com tarifas sobre produtos americanos, gera debates. Especialistas sugerem cautela para evitar uma escalada de barreiras comerciais que prejudique ambos os lados.

  • Setores mais afetados pela tarifa:
    • Café: US$ 2 bilhões exportados em 2024.
    • Carne bovina: US$ 1,6 bilhão em vendas aos EUA.
    • Petróleo: US$ 5,8 bilhões exportados.
    • Aço e ferro: US$ 2,8 bilhões em semifaturados.

Efeitos no setor agropecuário
O agronegócio, pilar das exportações brasileiras, enfrenta impactos imediatos da tarifa de 50%. Produtos perecíveis, como café, carne bovina e suco de laranja, são os mais vulneráveis, pois não podem ser estocados por longos períodos. Com a redução das vendas aos EUA, que absorvem 16,7% do café e da carne exportados, o excedente deve retornar ao mercado interno.

Essa maior oferta pode pressionar os preços para baixo, beneficiando consumidores. No caso do café, que exportou US$ 2 bilhões para os EUA em 2024, a queda nos preços pode ser significativa. A carne bovina, com 532 mil toneladas embarcadas, também tende a ficar mais acessível no Brasil, especialmente em cortes de menor valor.

O suco de laranja, com US$ 1,3 bilhão exportados na safra 2024/25, enfrenta cenário semelhante. Como 41,7% das vendas do setor vão para os EUA, o excedente interno pode reduzir os custos para o consumidor brasileiro, mas pressiona as margens dos produtores.

Impactos na indústria brasileira
Setores industriais, como siderurgia, aviação e máquinas, enfrentam desafios mais complexos. Produtos de alto valor agregado, como aço, aeronaves e equipamentos, têm ciclos de venda longos e não podem ser facilmente redirecionados ao mercado interno. Em 2024, os EUA compraram 70% dos semifaturados de ferro e aço brasileiros, totalizando US$ 2,8 bilhões.

A aviação, liderada pela Embraer, exportou US$ 2,4 bilhões em aeronaves, com 63% destinados aos EUA. A tarifa pode reduzir encomendas, impactando a produção e os empregos no setor. Máquinas e motores, com US$ 1,3 bilhão exportados, também sofrem com a perda de competitividade.

A incapacidade de absorver esses produtos internamente pode levar a cortes na produção e queda no faturamento das empresas, especialmente em indústrias que dependem de contratos de longo prazo.

Mudanças nos preços internos
A tarifa americana pode ter efeitos contraditórios nos preços no Brasil. No agronegócio, o aumento da oferta interna de produtos como café, carne e suco de laranja tende a reduzir os custos ao consumidor. Por exemplo, o café, um item essencial na cesta básica, pode ficar mais barato em supermercados e cafeterias.

  • Possíveis reduções de preços:
    • Café: maior oferta pode levar a deflação localizada.
    • Carne bovina: cortes populares ficam mais acessíveis.
    • Suco de laranja: preços menores em mercados e restaurantes.
    • Açúcar: excedente de exportação reduz custos internos.

No entanto, a valorização do dólar, que subiu 0,72% em 10 de julho, pode neutralizar esses benefícios. Um câmbio elevado encarece produtos importados, como insumos agrícolas e combustíveis, pressionando a inflação. O petróleo, que teve US$ 5,8 bilhões exportados aos EUA, pode manter preços estáveis devido à flexibilidade de redirecionamento, mas combustíveis derivados ainda sofrem com a cotação do dólar.

Pressão na balança comercial
As exportações brasileiras para os EUA representam cerca de 2% do PIB, o que limita o impacto macroeconômico, mas não elimina os efeitos na balança comercial. A redução das vendas de produtos como petróleo, aço e celulose pode gerar um déficit comercial, especialmente se o Brasil não encontrar novos mercados rapidamente.

A celulose, com US$ 1,6 bilhão exportados, e a madeira, com 40% das vendas destinadas aos EUA, enfrentam dificuldades no curto prazo. Grandes empresas, como a Suzano, que depende dos EUA para 15% de sua receita, buscam diversificar destinos, mas a adaptação exige tempo e investimentos logísticos.

A balança comercial brasileira, que registrou superávit em 2024, pode sofrer com a queda nas exportações, aumentando a dependência de outros parceiros, como a China.

Café
Café – Foto: amenic181/ Istockphoto.com

Estratégias de adaptação do setor produtivo
Os setores afetados pela tarifa buscam alternativas para minimizar perdas. No agronegócio, produtores de café e carne planejam aumentar as vendas internas e explorar mercados como a União Europeia e a Ásia. O petróleo, com maior flexibilidade, pode ser redirecionado para países como Índia e Coreia do Sul.

Na indústria, a siderurgia avalia reduzir a produção para evitar estoques excessivos, enquanto a Embraer negocia contratos com outros países. Máquinas e eletrônicos, que exportaram US$ 1,1 bilhão aos EUA, enfrentam maior dificuldade devido à especificidade dos produtos.

  • Medidas em andamento:
    • Redirecionamento de exportações para Ásia e Europa.
    • Aumento de promoções no mercado interno.
    • Negociações com o governo para incentivos fiscais.
    • Busca por acordos comerciais bilaterais.

A resposta do setor produtivo dependerá da duração da tarifa e das negociações entre Brasil e EUA.

Riscos de uma retaliação brasileira
A possibilidade de o Brasil impor tarifas sobre produtos americanos gera preocupações. Insumos importados dos EUA, como fertilizantes e peças industriais, são essenciais para a agricultura e a indústria. Uma retaliação pode encarecer esses itens, aumentando os custos de produção e os preços finais.

Além disso, uma “escada tarifária”, com aumento mútuo de barreiras, pode agravar as tensões comerciais. O governo brasileiro estuda respostas cautelosas, priorizando negociações diplomáticas para evitar uma guerra comercial. A alta do dólar, impulsionada por incertezas, já pressiona o Banco Central a rever a política de juros.

O papel dos acordos comerciais
Diante da tarifa americana, economistas defendem a diversificação dos parceiros comerciais do Brasil. A União Europeia, que negocia um acordo com o Mercosul, é vista como um destino promissor para carne, café e suco de laranja. Países asiáticos, como Japão e Vietnã, também são alvos para produtos agropecuários.

O Brasil já intensificou contatos com a China, principal compradora de soja e minério, mas a dependência de um único mercado preocupa. Acordos bilaterais com nações menores, como Singapura e Canadá, estão em discussão para ampliar as exportações de celulose e máquinas.

Impacto no consumidor brasileiro
O consumidor brasileiro pode sentir os efeitos da tarifa de forma mista. Itens como café, carne e suco de laranja tendem a ficar mais baratos com o aumento da oferta interna. No entanto, produtos industriais, como eletrônicos e materiais de construção, podem subir devido à queda na receita das empresas e à alta do dólar.

Os combustíveis, embora menos impactados, seguem vulneráveis ao câmbio. A gasolina, que depende de insumos importados, pode manter preços elevados se o dólar continuar subindo. Alimentos processados, que usam embalagens de aço, também podem sofrer reajustes.

Cenário para o PIB e o emprego
A tarifa de 50% deve ter um impacto limitado no PIB, já que as exportações para os EUA representam uma fração pequena da economia. No entanto, setores intensivos em mão de obra, como aviação e siderurgia, podem enfrentar demissões se a produção for reduzida.

O agronegócio, mais resiliente, tende a manter os empregos, mas os produtores enfrentam margens menores. A construção civil, que depende de aço e materiais exportados, pode desacelerar, afetando trabalhadores informais. O governo monitora os indicadores para evitar uma desaceleração econômica mais ampla.

Negociações entre Brasil e EUA
As negociações entre os governos brasileiro e americano são cruciais para definir o futuro da tarifa. O Brasil busca isenções para setores estratégicos, como petróleo e aviação, enquanto os EUA pressionam por concessões em outras áreas. Associações setoriais, como a do café e da carne, aguardam os desdobramentos antes de anunciar medidas.

O diálogo deve se intensificar nas próximas semanas, com reuniões previstas no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Até lá, os setores afetados se preparam para um cenário de incerteza, ajustando estoques e estratégias de mercado.