MP denuncia Augusto Melo e ex-dirigentes do Corinthians por fraudes de R$ 40 milhões

O Ministério Público de São Paulo apresentou, em 10 de julho de 2025, uma denúncia contra Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, os ex-dirigentes Marcelo Mariano e Sérgio Moura, e o empresário Alex Cassundé, por irregularidades no contrato de patrocínio com a Vai de Bet, firmado em janeiro de 2024. A ação, protocolada na Justiça de São Paulo, acusa os quatro de furto qualificado, lavagem de dinheiro e associação criminosa, além de incluir Victor Shimada e Ulisses Jorge, donos de empresas envolvidas, por lavagem de dinheiro. O caso envolve o desvio de R$ 1,4 milhão em comissões de intermediação, que teriam passado por empresas de fachada até chegar à UJ Football Talent, ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O MP solicita uma indenização de R$ 40 milhões ao clube, somando o prejuízo do desvio e a multa de rescisão com a antiga patrocinadora, Pixbet. Se aceita pela Justiça, a denúncia transformará os acusados em réus.

A investigação, iniciada em 2023 pela Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), revelou um esquema complexo de transferências financeiras. O contrato, inicialmente celebrado como o maior patrocínio máster do futebol brasileiro, com R$ 360 milhões por três anos, foi rescindido em junho de 2024 após suspeitas de uso de laranjas.

  • Crimes apontados pelo MP:
    • Furto qualificado: subtração de R$ 1,4 milhão dos cofres do Corinthians.
    • Lavagem de dinheiro: uso de empresas de fachada para ocultar valores.
    • Associação criminosa: articulação entre os denunciados para cometer os crimes.
    • Prejuízo estimado: R$ 40 milhões, incluindo multa rescisória com a Pixbet.

O Corinthians, por meio de nota, afirmou ser vítima do esquema e reforçou seu compromisso com a transparência, colaborando com as autoridades. A denúncia intensifica a crise no clube, que enfrenta pedidos de impeachment contra Melo.

Detalhes do contrato

Em janeiro de 2024, o Corinthians anunciou a Vai de Bet como patrocinadora máster, em um acordo de R$ 370 milhões por três anos, incluindo R$ 10 milhões em luvas. A Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé, foi contratada como intermediária, recebendo R$ 1,4 milhão em duas parcelas de R$ 700 mil, entre 18 e 21 de março de 2024.

A empresa, com capital social de apenas R$ 10 mil e sem experiência no setor esportivo, levantou suspeitas. O MP aponta que as transferências começaram com a Rede Social Media Design, que repassou R$ 580 mil e R$ 462 mil à Neoway Soluções Integradas, registrada em nome de uma empregada doméstica em Peruíbe (SP). A Neoway transferiu R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas, que enviou R$ 874.150 à UJ Football Talent, apontada como ligada ao PCC.

O contrato inicial não mencionava intermediários, e a inclusão da Rede Social Media Design ocorreu em 3 de janeiro de 2024, após questionamentos do setor jurídico da Vai de Bet. O MP alega que a inserção foi feita para ocultar a prática criminosa.

Envolvimento dos denunciados

Augusto Melo, eleito presidente do Corinthians em novembro de 2023, foi responsável por encaminhar a proposta da Vai de Bet aos departamentos competentes. O MP alega que ele, junto com Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo), Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing) e Alex Cassundé, formaram uma associação criminosa para desviar recursos do clube.

Cassundé, que integrou a campanha eleitoral de Melo, é dono da Rede Social Media Design. Ele esteve no Parque São Jorge, sede do clube, no dia dos repasses, mas nega irregularidades, afirmando que sua empresa foi escolhida por critérios internos. Marcelo Mariano autorizou os pagamentos de R$ 700 mil, enquanto Sérgio Moura apresentou Cassundé à diretoria.

Victor Shimada, da Victory Trading Intermediação, e Ulisses Jorge, da UJ Football Talent, também foram denunciados por lavagem de dinheiro, por receberem parte dos valores desviados. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee, embora indiciado pela Polícia Civil, foi excluído da denúncia do MP por falta de provas de dolo.

Ligação com o crime organizado

A UJ Football Talent, destino final de R$ 1,074 milhão dos R$ 1,4 milhão desviados, foi apontada por Vinicius Gritzbach, delator assassinado em novembro de 2024 no Aeroporto de Guarulhos, como um braço do PCC no mercado do futebol. Gritzbach, em delação ao MP, identificou Danilo Lima, conhecido como “Tripa”, como integrante da facção e ligado à empresa.

A investigação revelou que a UJ Football Talent atua como agência de jogadores, representando atletas da Série A e do futebol europeu. A defesa da empresa e de Danilo Lima nega qualquer vínculo com o crime organizado, afirmando que as movimentações financeiras são lícitas. A Polícia Civil, no entanto, considera a UJ Football parte de um esquema de lavagem de dinheiro.

  • Caminho do dinheiro:
    • Rede Social Media Design: recebeu R$ 1,4 milhão do Corinthians.
    • Neoway Soluções Integradas: recebeu R$ 1,042 milhão da Rede Social.
    • Wave Intermediações Tecnológicas: recebeu R$ 1 milhão da Neoway.
    • UJ Football Talent: recebeu R$ 874.150 da Wave.
    • Victory Trading Intermediação: recebeu R$ 200 mil da Wave.

Prejuízo ao Corinthians

O MP estima que o esquema causou um prejuízo de R$ 40 milhões ao Corinthians, sendo R$ 1,4 milhão desviado diretamente e R$ 38,9 milhões referentes à multa rescisória com a Pixbet, antiga patrocinadora, devido à assinatura com a Vai de Bet. A rescisão ocorreu em 7 de junho de 2024, após a Vai de Bet alegar violação de cláusulas anticorrupção.

O Corinthians, em nota, reiterou que é vítima do esquema, destacando que não controla as ações de terceiros com os valores pagos. O clube contratou uma auditoria independente para apurar os fatos e informou que colabora com as autoridades.

Depósitos suspeitos

Entre dezembro de 2023 e abril de 2024, a Polícia Civil identificou depósitos em espécie de R$ 152.070 na conta de Augusto Melo, em valores de até R$ 2 mil, sem identificação dos depositantes. O período coincide com a eleição de Melo e o início do escândalo.

A prática, segundo os investigadores, sugere tentativa de burlar controles bancários. A defesa de Melo justifica os depósitos como parte do fluxo de caixa da Arena Tatuapé, empreendimento de sua propriedade, mas a Polícia considera as movimentações incomuns.

Reações no clube

A denúncia intensificou a crise política no Corinthians. Em maio de 2025, o Conselho Deliberativo aprovou o impeachment de Augusto Melo, que foi afastado da presidência. A votação, marcada por protestos de torcedores, reflete a insatisfação com a gestão, que prometia transparência, mas enfrenta acusações graves.

Torcedores organizados, como a Gaviões da Fiel, cobram esclarecimentos. Postagens em redes sociais mostram indignação, com pedidos para que Melo e os ex-dirigentes sejam responsabilizados. A diretoria interina, liderada por André Negão, assumiu o comando e prometeu auditorias internas.

Papel da Vai de Bet

A Vai de Bet, que firmou o contrato em janeiro de 2024, rescindiu a parceria após suspeitas de laranjas na intermediação. A empresa afirmou que Antônio Pereira dos Santos, conhecido como Toninho Duettos, foi o verdadeiro intermediário, mas ele alega ter sido vítima de um golpe, sem receber sua comissão.

A casa de apostas colaborou com as investigações, fornecendo documentos e depoimentos. A cláusula anticorrupção, presente no contrato, foi a base para a rescisão, após a identificação de inconsistências na Rede Social Media Design.

Próximos passos judiciais

Se a Justiça aceitar a denúncia, os acusados se tornarão réus e responderão a um processo criminal, com audiências, depoimentos e produção de provas. O MP solicitou o bloqueio de bens dos denunciados para garantir a indenização de R$ 40 milhões ao Corinthians.

  • Possíveis desdobramentos:
    • Aceitação da denúncia: início do processo penal.
    • Audiências: depoimentos de testemunhas e acusados.
    • Julgamento: absolvição ou condenação, com possibilidade de recursos.
    • Indenização: pagamento de R$ 40 milhões ao clube, se confirmada a culpa.

O prazo para a Justiça decidir sobre a denúncia é de 15 dias. Caso aceita, os réus poderão recorrer até instâncias superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF).

Histórico de denúncias

O caso Vai de Bet não é o primeiro escândalo financeiro no Corinthians. Em 2014, a gestão de Mário Gobbi enfrentou investigações por desvios na construção da Neo Química Arena. A diferença é que o atual caso envolve suspeitas de ligação com o crime organizado, agravando a crise.

A Polícia Civil, por meio do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), conduziu a investigação com mais de 20 depoimentos, incluindo os de Melo, Mariano, Moura e Cassundé. O Gaeco, do MP, acompanhou o caso desde 2023, reforçando a apuração.

Defesa dos acusados

A defesa de Augusto Melo, liderada por Ricardo Jorge, classificou a denúncia como “frágil” e sem clareza cronológica, prometendo apresentar suas considerações após análise do documento. Sérgio Moura nega participação no esquema, enquanto Marcelo Mariano afirma não ter obtido benefícios econômicos.

Alex Cassundé reconhece o contato com a Vai de Bet, mas alega que os repasses foram lícitos, respaldados por documentos. As defesas de Shimada e Jorge também contestam as acusações, afirmando que as movimentações da Victory Trading e da UJ Football são legítimas.

Auditoria interna

O Corinthians contratou uma empresa independente para auditar o contrato com a Vai de Bet. A apuração interna, iniciada em maio de 2024, confirmou inconsistências na intermediação, mas não encontrou evidências de envolvimento direto da diretoria com o crime organizado. O Conselho Deliberativo também conduz uma investigação paralela.

A crise gerada pelo caso levou à reformulação do departamento de compliance do clube, que agora exige checagem rigorosa de empresas envolvidas em contratos. A medida visa evitar novos escândalos financeiros.

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Redação

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