
Ibovespa supera 142 mil pontos pela primeira vez impulsionado por pesquisa Atlas e cortes de juros no exterior. O principal índice da bolsa de valores brasileira, o Ibovespa, registrou uma alta expressiva nesta quinta-feira, 28 de agosto de 2025, em São Paulo, ao ultrapassar pela primeira vez a marca de 142 mil pontos durante o pregão, alcançando 142.138 pontos no pico intradiário. O avanço de cerca de 2% no dia foi impulsionado por uma combinação de fatores internos e externos, incluindo a divulgação de uma pesquisa eleitoral que mostra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um hipotético segundo turno para 2026, além de dados econômicos positivos nos Estados Unidos que reforçam apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve já em setembro. Analistas destacam que o apetite por risco no mercado reflete confiança em um cenário político mais alinhado com expectativas de reformas econômicas e em um afrouxamento monetário global que pode atrair fluxos de capital para emergentes como o Brasil. Às 11h47, o índice operava a 141.854 pontos, com volume negociado acima da média, sinalizando forte participação de investidores institucionais e estrangeiros. Esse marco histórico ocorre em meio a um ano de recuperação para a bolsa, que acumula ganhos de mais de 16% desde janeiro, beneficiada por lucros corporativos robustos e melhora no humor global.
O movimento de alta ganhou força logo após a abertura dos pregões, com o Ibovespa rompendo o recorde anterior de 141.563 pontos, estabelecido em julho. Profissionais do mercado atribuem o ímpeto inicial à pesquisa LatAm Pulse, conduzida pela AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, que ouviu 6.238 eleitores entre 20 e 25 de agosto e indicou Tarcísio com 48,4% das intenções de voto contra 46,6% de Lula em um segundo turno. Essa virada em relação a sondagens anteriores, onde Lula aparecia à frente, animou o setor financeiro, que vê no governador paulista um perfil mais favorável a políticas pró-mercado, como controle fiscal e abertura econômica. Paralelamente, o desempenho das bolsas americanas, com o S&P 500 e o Nasdaq renovando máximas, foi sustentado pela segunda leitura do PIB do segundo trimestre de 2025, que mostrou expansão de 3,3% anualizada, acima das expectativas de 3%, e pelo balanço trimestral da Nvidia, que apesar de uma queda inicial no after-market, reforçou o otimismo com o setor de tecnologia. Esses elementos combinados criaram um ambiente de maior tolerância ao risco, com o real se valorizando ligeiramente e o dólar caindo para R$ 5,40.
Fatores eleitorais impulsionam o otimismo no mercado
A pesquisa AtlasIntel surgiu como catalisador principal para a euforia na bolsa brasileira. Realizada com margem de erro de um ponto percentual e confiança de 95%, o levantamento revela uma disputa acirrada para 2026, com Tarcísio ganhando terreno especialmente entre eleitores de renda mais alta e no Sudeste, regiões chave para o desempenho econômico. Analistas como Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, descrevem o fenômeno como o “rali da eleição começando”, argumentando que vitórias em pesquisas como essa tendem a elevar ações de setores sensíveis à política fiscal, como bancos e infraestrutura. Em um cenário de primeiro turno testado, Lula lidera com 44,1% contra 31,8% de Tarcísio, mas o segundo turno apertado sugere volatilidade, o que o mercado interpreta como oportunidade para apostas em candidatos pró-negócios.

Outro aspecto da pesquisa que chamou atenção foi o empate técnico de Lula com o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030, ambos com 48,3%, e com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, em 48,8% para Lula contra 47,9% dela. Esses números indicam fragmentação na oposição, beneficiando indiretamente perfis como o de Tarcísio, visto como moderado e alinhado com o mercado. Alison Correia, da Dom Investimentos, reforça que o humor eleitoral reflete em fluxos de capital, com estrangeiros injetando R$ 21 bilhões na B3 em 2025 até agora, revertendo saídas de anos anteriores. No entanto, Correia alerta para riscos, como o julgamento de Bolsonaro no STF, que poderia gerar sanções externas e volatilidade nos preços de ativos.
- Tarcísio lidera entre evangélicos (68,8%) e jovens (52,8%), grupos influentes no eleitorado;
- Lula mantém vantagem entre mulheres (51,4%) e idosos (62,6%), mas perde força no Nordeste em comparação a pesquisas anteriores;
- A pesquisa destaca que 5% dos entrevistados ainda não decidiram, o que pode amplificar oscilações em futuras sondagens;
- Setores como varejo e construção civil sobem mais de 5% no dia, apostando em reformas sob um governo Tarcísio.
Perspectivas de afrouxamento monetário nos EUA animam investidores
Os dados econômicos americanos também pesaram positivamente no Ibovespa. O PIB do segundo trimestre superou projeções, indicando resiliência longe de recessão, enquanto o índice de preços ao produtor (PPI) e o IPCA-15 no Brasil, com deflação apesar de surpresas setoriais, reforçam apostas em cortes de juros locais a partir de dezembro ou início de 2026. Kevin Oliveira, da Blue3, aponta que o Federal Reserve deve iniciar reduções em setembro, com probabilidade de 82,9% para um corte de 0,25 ponto percentual, segundo o CME FedWatch, o que traria capital estrangeiro para emergentes. Jerome Powell, chair do Fed, sinalizou em Jackson Hole maior confiança na desinflação, com inflação projetada em 2,5% para 2025, acima da meta de 2%, mas com riscos equilibrados.
No Brasil, o IPCA-15 de agosto registrou deflação de 0,08%, o menor desde outubro de 2020, impulsionado por queda nos alimentos, embora preços de serviços mostrem pressão. Isso anima perspectivas de Selic caindo para 14,75% até o fim do ano, segundo o Boletim Focus, tornando a renda variável mais atrativa. Correia, da Dom Investimentos, destaca que recordes nas bolsas de Wall Street, apesar de tensões como a demissão de Lisa Cook pelo governo Trump, confirmam a independência do Fed, com Cook rejeitando a ação e reforçando a autonomia institucional.
A tendência positiva deve persistir nos próximos meses, com influxo de capitais estrangeiros estimado em mais R$ 10 bilhões até dezembro, segundo projeções da B3. Oliveira enfatiza que o PIB americano acima do esperado, com 3,3% de crescimento, afasta temores de recessão e sustenta commodities como minério de ferro, beneficiando Vale e siderúrgicas na composição do Ibovespa.
Desempenho setorial e ações que lideram a alta
O avanço do Ibovespa foi amplamente distribuído, mas setores específicos se destacaram. Bancos como Itaú e Bradesco subiram mais de 2%, refletindo confiança em lucros crescentes com maior volume de crédito em um ambiente de juros em queda. A Vale ganhou 1,5%, impulsionada por alta de 1,74% no minério de ferro na Bolsa de Dalian, na China, atingindo US$ 110,51 por tonelada, o maior desde agosto. Petrobras ON e PN avançaram 1%, apesar de oscilações no petróleo, que atenuou quedas para 0,80% após balanço da Nvidia levantar dúvidas sobre data centers na China.
Raízen saltou mais de 10%, mesmo com rebaixamento do Citi para neutro, enquanto Magazine Luiza e Casas Bahia, no varejo, subiram 10,65% e 15,61%, respectivamente, após gestoras como Squadra encerrarem posições short no setor. Petz disparou 23,87% com anúncio de fusão com Cobasi, criando a maior rede pet do país. Marfrig ON avançou 13,19%, beneficiada por upgrade do Bank of America, elevando preço-alvo para R$ 21,50.
- Bancos representam 30% do índice e lideram com Itaú PN +2,47% e Bradesco PN +2,12%;
- Commodities como Vale +1% e minério em alta sustentam exportadoras;
- Varejo explode com MGLU3 +10,65% e PETZ3 +23,87% em fusões e encerramento de shorts;
- Tecnologia e energia, como Embraer +4,42% e Engie +4,49%, ganham com apetite global;
- Quedas limitadas a óleo e gás, com Prio -0,5% e Recv3 -0,16%.
Influência de dados inflacionários e atividade econômica
Os indicadores recentes de inflação e atividade econômica no Brasil e exterior reforçam o cenário positivo. O IGP-M subiu 0,36% em agosto, acima da mediana de 0,21%, mas acumula queda de 1,35% no ano, sinalizando desinflação gradual. No Brasil, dados do mercado de trabalho mostram criação de 147 mil vagas em junho, com desemprego em 4,1%, e salários subindo 3,7% em 12 meses, o que sustenta consumo sem pressionar preços excessivamente. Sung, da Suno Research, atribui o otimismo ao “pouso suave” da economia, com Ibovespa acumulando 17,16% no ano.
Internacionalmente, o payroll americano de novembro adicionou empregos acima do esperado, mas com desaceleração, alinhando-se à visão de Powell de mercado de trabalho sustentável. A Moody’s rebaixou a nota dos EUA para Aa1 devido a déficits fiscais, enfraquecendo o dólar e favorecendo emergentes. No Brasil, o fluxo estrangeiro positivo de R$ 4 bilhões em agosto, segundo a B3, indica rebalanceamento de portfólios globais.
Correia alerta para o julgamento de Bolsonaro como fator de atenção, podendo gerar sanções dos EUA e mexer com preços, mas o otimismo prevalece com dados de inflação controlados. O volume financeiro do dia somou R$ 25,5 bilhões, acima da média, com apenas cinco ações em queda na carteira teórica.
Reações de analistas e projeções para o futuro próximo
Analistas projetam continuidade da alta, com preço-alvo médio de 150 mil pontos para o Ibovespa até o fim de 2025, segundo compilação de 17 instituições pelo Valor Econômico. Siqueira, da Eleven Financial, vê potencial para ultrapassar 150 mil em 12 a 18 meses, com valuation abaixo da média histórica. A Ativa Investimentos atualiza para 142 mil no fim do ano, neutra em recomendação geral, mas positiva em commodities expostas à China, como Vale e Gerdau, com estímulos asiáticos ao imobiliário.
No curto prazo, falas de autoridades como Gabriel Galípolo, do BC brasileiro, em Belo Horizonte, e a ata do FOMC na quarta-feira manterão o foco. Takeo, da Potenza Capital, espera tendência de alta mesmo com ajustes, com fluxo estrangeiro forte somando R$ 4 bilhões em agosto. O Ibovespa acumula série de oito altas seguidas interrompida na sexta, mas com ganhos semanais.
- Projeções indicam 150 mil pontos em 2025, com alta de 18% no ano;
- Setores resilientes como seguradoras e exportadoras preferidos em cenário inflacionário;
- Risco fiscal dos EUA enfraquece dólar, atraindo alocações para emergentes;
- BTG Pactual vê resultados corporativos acima das expectativas, excluindo Petrobras e Vale;
- Eleven Financial aposta em bull market por 12-18 meses com valuation descontado.
