Funcionários que compartilham suas rotinas de trabalho nas redes sociais, conhecidos como “blogueiros CLT”, estão enfrentando demissões em empresas brasileiras devido ao incômodo gerado por suas publicações. O fenômeno, que ganhou força em 2024, reflete a tensão entre a liberdade de expressão dos trabalhadores e a preocupação das empresas com sua imagem. Em São Paulo, casos como o da psicóloga Thamiris Castro, demitida após viralizar no TikTok, e da influenciadora Geovanna Pedroso, desligada após represálias, mostram como o sucesso online pode custar o emprego. O conflito revela a falta de diálogo e políticas claras nas organizações, além de uma resistência à nova realidade digital. Por que as empresas estão reagindo assim? Como os trabalhadores podem equilibrar sua presença online com a vida profissional?
A prática de criar conteúdo sobre o cotidiano profissional explodiu com a popularização de plataformas como TikTok e Instagram. Esses trabalhadores, muitas vezes jovens, mostram os “perrengues” e curiosidades do dia a dia, conquistando seguidores e até renda extra. Porém, o que começou como uma forma de expressão ou hobby tem gerado atritos com empregadores, que temem exposição indevida ou danos à reputação corporativa.
O tema levanta questões legais, culturais e estratégicas, enquanto empresas e trabalhadores tentam encontrar um equilíbrio na era digital.
O crescimento dos “blogueiros CLT” pegou muitas empresas desprevenidas. A psicóloga Thamiris Castro, de 30 anos, começou a publicar vídeos em abril de 2024, mostrando curiosidades de seu trabalho em presídios no Rio de Janeiro. Após viralizar, ela foi demitida em junho de 2025, sem advertências prévias. “Faltou diálogo. Eu ajustaria meu conteúdo se tivesse sido orientada”, conta. Sua chefe passou a segui-la nas redes uma semana antes do desligamento, o que levantou suspeitas sobre o motivo da demissão.
Casos como o de Thamiris não são isolados. Geovanna Pedroso, de 23 anos, trabalhava em marketing e produzia conteúdo sobre moda e comportamento como hobby. Apesar de não expor diretamente sua empresa, enfrentou comentários pejorativos de colegas e foi demitida em setembro de 2023, junto com outros funcionários que criavam conteúdo online. “Senti medo de que minha posição estivesse ameaçada”, relata.
Para especialistas, a reação das empresas reflete uma postura defensiva. Leandro Oliveira, diretor da Humand no Brasil, explica que muitas organizações veem os “blogueiros CLT” como uma ameaça à imagem corporativa, especialmente quando conquistam mais visibilidade que a própria marca. “É uma oportunidade perdida. Esses funcionários poderiam ser aliados estratégicos”, afirma.
Legalmente, as empresas não podem proibir funcionários de publicar nas redes sociais, desde que não haja quebra de sigilo ou prejuízo à imagem corporativa. No entanto, a advogada trabalhista Juliane Facó alerta que demissões por justa causa são possíveis em casos de má conduta, como divulgar informações confidenciais ou falar mal da empresa. “O trabalhador precisa alinhar suas publicações aos valores da organização”, explica.
Carolina Dostal, da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), reforça a importância de cuidados ao publicar:
Apesar das restrições, especialistas defendem que as empresas deveriam investir em treinamentos para orientar os funcionários, transformando-os em embaixadores da marca.
O fenômeno dos “blogueiros CLT” poderia ser uma vantagem competitiva, segundo especialistas. Leandro Oliveira sugere que empresas bem estruturadas integrem esses funcionários em suas estratégias de marketing. “Por que contratar um influenciador externo se você já tem um colaborador com presença digital?”, questiona. Ele critica o modelo de comunicação “top-down”, onde apenas o alto escalão decide o que é comunicado.
Dado Schneider, doutor em comunicação pela PUC/RS, aponta que muitas demissões decorrem de inveja ou ciúmes profissionais, e não de infrações claras. “O blogueiro CLT muitas vezes tem mais visibilidade que seus superiores, e isso incomoda”, diz. Ele classifica os influenciadores em três perfis:
Schneider compara a resistência das empresas à proibição de celulares em escolas, sugerindo que a solução não é banir, mas integrar. “Esses funcionários podem ajudar a marca, mas muitas empresas preferem eliminá-los”, lamenta.
Para muitos “blogueiros CLT”, a demissão marca o início de uma carreira instável como influenciadores. Geovanna Pedroso, após ser desligada, passou a depender exclusivamente das redes sociais. “Em alguns meses, fecho boas parcerias; em outros, fico no limite”, conta. Sem apoio de agências, ela busca parcerias sozinha, o que torna a renda imprevisível.
Yuri Santos, de 23 anos, teve uma trajetória diferente. Após ser demitido de uma empresa de social media, usou sua visibilidade para conquistar um novo emprego no setor de beleza. Ele mantém um perfil pessoal ativo e administra uma conta sobre cultura e moda com amigas. “É uma jornada tripla, mas amo essa rotina”, diz.
Thamiris Castro, por sua vez, viu sua demissão abrir portas. Após o desligamento, passou a atender pacientes que a conheceram pelos vídeos, além de oferecer palestras e mentorias. “Minha exposição me aproximou de pessoas que se identificam comigo”, afirma.
Jéssica Palin Martins, especialista em saúde emocional corporativa, compara a criação de conteúdo a outras formas de renda extra, como vender doces ou trabalhar como garçom. “Se não atrapalha o desempenho, não há problema”, diz. Ela sugere que os trabalhadores:
Carolina Dostal reforça a importância de treinamentos corporativos. “Empresas que orientam seus funcionários sobre o uso das redes criam uma relação de confiança”, diz. Ela recomenda que as organizações estabeleçam diretrizes claras e valorizem os colaboradores que já têm presença digital.
A exposição nas redes também traz riscos, como a inclusão em “listas negras” do mercado. Schneider explica que setores mais conservadores podem evitar contratar profissionais vistos como “incômodos”. “É uma prática injusta, mas comum”, alerta.
Além disso, a falta de diálogo entre empresas e funcionários agrava o problema. Thamiris Castro, por exemplo, acredita que uma conversa poderia ter evitado sua demissão. “Eu ajustaria meu conteúdo, mas não fui orientada”, diz.
Para evitar conflitos, os trabalhadores devem evitar:
O fenômeno dos “blogueiros CLT” expõe a necessidade de adaptação das empresas à era digital. Enquanto algumas organizações veem esses trabalhadores como um risco, outras começam a perceber seu potencial. Yuri Santos, por exemplo, encontrou uma empresa que valoriza sua presença online. “Hoje, meu perfil nas redes é um diferencial no meu currículo”, celebra.
Especialistas acreditam que o diálogo é a chave para resolver o conflito. “As empresas precisam criar canais de escuta e integrar esses funcionários em suas estratégias”, diz Leandro Oliveira. Ele sugere que as organizações remunerem os colaboradores por conteúdos que promovam a marca, transformando um hobby em parte do trabalho.
Thamiris Castro, agora focada em atendimentos e palestras, planeja continuar nas redes. “É um momento de descobertas. Vou seguir enquanto fizer sentido”, diz. Já Geovanna Pedroso busca estabilidade financeira, mas reconhece que a internet mudou sua trajetória. “O que era um hobby virou uma obrigação, mas também uma oportunidade”, reflete.
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