O Brics Pay, lançado em agosto de 2025 na cúpula do bloco em Kazan, Rússia, promete transformar o comércio global ao facilitar transações rápidas e baratas em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar. Formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos membros como Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã e Indonésia, o Brics aposta em tecnologia blockchain para conectar sistemas de pagamento instantâneo, como o Pix brasileiro, em uma rede descentralizada. A iniciativa, apelidada de “Pix Global”, responde às sanções ocidentais e busca maior autonomia financeira. O Brasil, com sua expertise em pagamentos instantâneos, lidera a integração, mirando benefícios para exportações em setores como agronegócio e energia.

A plataforma surge em meio a tensões geopolíticas, com os Estados Unidos, sob o presidente Donald Trump, reagindo ao projeto com ameaças de tarifas de até 50% sobre produtos de países do bloco. A criação do Brics Pay é vista como um passo estratégico para redefinir as dinâmicas do comércio internacional, promovendo um sistema financeiro mais multipolar.

  • Objetivo principal: Reduzir a dependência do dólar em transações internacionais.
  • Tecnologia utilizada: Blockchain com o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS).
  • Liderança brasileira: Expertise do Pix como modelo para integração de sistemas.
Brics – Foto: Yau Ming Low/Istock.com

Tecnologia por trás do Brics Pay

O Brics Pay utiliza o Decentralized Cross-border Messaging System (DCMS), desenvolvido pela Universidade Estatal de São Petersburgo, para garantir transações seguras e rápidas. A tecnologia blockchain permite processar até 20 mil mensagens por segundo, superando limitações do sistema SWIFT, controlado por bancos ocidentais. Cada país membro opera seu próprio nó na rede, garantindo descentralização e resistência a interferências externas. A ausência de um controlador central fortalece a soberania financeira dos participantes. Após a fase de testes, o código será aberto, eliminando tarifas obrigatórias.

A escolha do blockchain reflete a necessidade de um sistema moderno e seguro, especialmente para países como Rússia e Irã, que enfrentam sanções econômicas. Testes iniciais já permitem transações bilaterais em moedas locais, como yuan e rublo, com potencial de expansão para outras moedas do bloco. O sistema também suporta carteiras digitais e pagamentos via QR code, simplificando operações comerciais.

  • Capacidade do DCMS: Processa 20 mil mensagens por segundo.
  • Segurança: Múltiplos protocolos de criptografia.
  • Acessibilidade: Código aberto após testes, sem custos fixos.
  • Resiliência: Funciona sem conexão direta entre usuários.

Integração dos sistemas nacionais

A força do Brics Pay está na integração dos sistemas de pagamento instantâneo já consolidados nos países membros. O Pix, que em setembro de 2025 registrou 227 milhões de transações diárias no Brasil, é o principal modelo. Outros sistemas, como o SBP russo, o UPI indiano, o IBPS chinês e o PayShap sul-africano, serão conectados para criar uma rede unificada. A interoperabilidade exige harmonização técnica e regulatória, um desafio que o Brasil planeja liderar durante sua presidência do Brics em 2026.

O Pix brasileiro, lançado em 2020 pelo Banco Central, movimentou R$ 7 trilhões no primeiro trimestre de 2025, representando 49% das transações não físicas no país. Sua experiência com transferências instantâneas e de baixo custo inspira a estrutura do Brics Pay. A digitalização de moedas, como o Drex brasileiro, pode simplificar ainda mais a integração, permitindo transações em tempo real entre os membros.

  • Pix (Brasil): 227 milhões de transações diárias, usado por 150 milhões de pessoas.
  • SBP (Rússia): Transferências via número de telefone, adotado por 200 instituições.
  • UPI (Índia): Interface unificada, líder em pagamentos digitais desde 2010.
  • IBPS (China): Suporta transações em yuan por múltiplos canais.
  • PayShap (África do Sul): Focado em inclusão financeira, em crescimento.

Benefícios econômicos para o Brasil

A adesão ao Brics Pay abre oportunidades para o Brasil ampliar suas exportações, especialmente em setores estratégicos como agronegócio, mineração e energia. Mercados como China e Índia, grandes compradores de grãos, carne e minérios, podem se beneficiar de transações diretas em yuan ou rúpias, eliminando custos de conversão para o dólar. Novos membros, como Emirados Árabes e Irã, também representam mercados potenciais para produtos brasileiros, como alimentos e combustíveis.

A redução de custos cambiais e a maior agilidade nas transações podem atrair investimentos e fortalecer a competitividade do Brasil no Sul Global. O professor Marco Aurélio dos Santos Sanfins, da Universidade Federal Fluminense, destaca que o sistema minimiza os impactos de sanções externas, oferecendo maior estabilidade para o comércio internacional. Durante a cúpula de julho de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o Brics Pay como um caminho para maior soberania econômica.

Reações internacionais e tensões com os EUA

A criação do Brics Pay intensifica as tensões com os Estados Unidos, que veem o sistema como uma ameaça à hegemonia do dólar. Em 2025, Donald Trump classificou o Brics como um “grupo antiamericano” e ameaçou impor tarifas de 10% a 50% sobre importações de países membros. Uma investigação norte-americana sobre o Pix, acusado de prejudicar empresas como Visa e Mastercard, elevou a pressão sobre o Brasil.

A resposta do Brics tem sido fortalecer a cooperação interna. Na cúpula de Kazan, em outubro de 2024, os líderes enfatizaram a importância de um sistema financeiro independente. O Brasil, sob a liderança do ministro Mauro Vieira, defende uma plataforma multilateral que beneficie todos os membros, evitando a dominação de economias maiores, como a China. A presidência brasileira em 2026 será crucial para avançar as negociações e superar barreiras técnicas.

  • Ameaças dos EUA: Tarifas de até 50% sobre produtos do Brics.
  • Investigação contra o Pix: Alegações de discriminação contra empresas americanas.
  • Resposta do Brics: Foco em autonomia financeira e integração econômica.

Papel do Brasil na liderança do projeto

O Brasil emerge como protagonista no desenvolvimento do Brics Pay, aproveitando a expertise do Pix e o avanço do Drex, sua moeda digital em desenvolvimento. Durante a cúpula de julho de 2025, em Rio de Janeiro, o governo brasileiro destacou a importância de um sistema que promova inclusão financeira e representatividade. A presidência do Brics em 2026 reforçará o papel do Brasil na harmonização regulatória e técnica, essencial para a interoperabilidade dos sistemas de pagamento.

A experiência brasileira com o Pix, que revolucionou o mercado financeiro nacional com transferências 24/7 e custos reduzidos, é um diferencial. Economistas, como Carla Beni da Fundação Getulio Vargas, afirmam que a tecnologia do Pix pode ser adaptada para atender às necessidades do bloco, especialmente com a integração do Drex. Países como Egito e Emirados Árabes já demonstram interesse em adotar modelos similares, fortalecendo a influência brasileira no projeto.

Futuro do comércio multipolar

O Brics Pay representa um marco na busca por um sistema financeiro mais equilibrado. Ao reduzir a dependência do dólar, o bloco visa maior estabilidade em um cenário de tensões geopolíticas. A plataforma pode atrair novos membros, como a Arábia Saudita, ampliando sua relevância global. Economistas projetam que, até 2030, o sistema movimente bilhões em transações anuais, desafiando a dominância do SWIFT.

Para o Brasil, o Brics Pay fortalece os laços com o Sul Global, reduzindo custos e aumentando a competitividade. A iniciativa alinha-se aos objetivos do Novo Banco de Desenvolvimento, que planeja expandir empréstimos em moedas locais até 2026. A longo prazo, o sistema pode redefinir as relações comerciais, promovendo um comércio mais inclusivo e resiliente.

  • Projeção para 2030: Bilhões em transações anuais.
  • Expansão do bloco: Interesse de países como Arábia Saudita.
  • Foco do NBD: Aumentar empréstimos em moedas locais.
  • Impacto global: Sistema financeiro mais multipolar e independente.
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Redação

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