As ações da CVC, maior operadora de turismo do Brasil, sofreram uma queda expressiva de 15,09% na B3, principal bolsa de valores brasileira, na manhã desta quarta-feira, 13 de agosto de 2025, após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre de 2025 (2T25). Cotadas a R$ 1,97 por volta das 11h20, as ações (CVCB3) refletiram a reação do mercado a um balanço que, embora tenha registrado crescimento operacional, trouxe números financeiros e tributários abaixo das expectativas. O relatório do Itaú BBA destacou um desempenho “levemente negativo”, enquanto a Genial Investimentos manteve otimismo, recomendando compra com preço-alvo de R$ 6. A combinação de aumento nas reservas, margens melhores e desafios financeiros gerou divergências entre analistas e impactou investidores. Por que o mercado reagiu tão fortemente?

O balanço do 2T25 trouxe números mistos que dividiram opiniões. Apesar de avanços em indicadores operacionais, como o crescimento de 17,7% nas reservas consumidas e uma receita líquida de R$ 342 milhões, o prejuízo líquido ajustado de R$ 41 milhões superou as projeções negativas, que estimavam R$ 24 milhões.

  • Reservas confirmadas atingiram R$ 4,1 bilhões, alta de 15% em relação ao 2T24.
  • Ebitda ajustado cresceu 13,4%, alcançando R$ 86 milhões, com margem de 25,1%.
  • Geração de caixa livre ficou em apenas R$ 8 milhões, bem abaixo dos R$ 135 milhões esperados.
  • Dívida líquida caiu para R$ 399,7 milhões, reduzindo a alavancagem para 0,9 vez o Ebitda.

Esses números mostram uma operação em recuperação, mas com entraves financeiros que pesaram na percepção do mercado.

Crescimento operacional em destaque

A CVC apresentou avanços significativos em sua operação, especialmente no Brasil e na Argentina. No mercado brasileiro, as reservas cresceram 9,9% em relação ao segundo trimestre de 2024, embora o segmento de vendas diretas ao consumidor (B2C) tenha mostrado estabilidade. A menor capacidade no setor de cruzeiros e a expectativa de vendas mesmas-lojas mais fracas em lojas físicas influenciaram o resultado. A taxa de comissão geral, ou take rate, subiu para 9,7%, um aumento de 0,2 ponto percentual, refletindo maior eficiência na conversão de vendas.

Na Argentina, o crescimento foi ainda mais robusto, com reservas 37,3% maiores na comparação anual. Contudo, o take rate no país caiu para 6,6%, um ponto percentual a menos, devido à maior participação de vendas entre empresas (B2B). Esses dados indicam que, apesar do aumento no volume de negócios, a rentabilidade na Argentina foi impactada por margens mais apertadas.

A receita líquida da companhia cresceu 16,3%, atingindo R$ 342 milhões, impulsionada por renegociações de contratos com fornecedores, que garantiram ganhos operacionais. O Ebitda ajustado, excluindo os efeitos do padrão contábil IFRS 16, chegou a R$ 86 milhões, superando as projeções do Itaú BBA em 13,4%. Esses números reforçam a capacidade da CVC de expandir sua operação, mas não foram suficientes para evitar a forte reação negativa do mercado.

Desafios financeiros sob o radar

Os números financeiros foram o principal ponto de preocupação para os investidores. O prejuízo líquido ajustado de R$ 41 milhões, superior ao estimado, foi influenciado por resultados financeiros e tributários abaixo do esperado. A geração de caixa livre, essencial para avaliar a saúde financeira de uma empresa, ficou em apenas R$ 8 milhões, contra uma projeção de R$ 135 milhões do Itaú BBA. A piora no capital de giro no Brasil contribuiu para esse desempenho fraco, levantando questões sobre a capacidade da CVC de manter liquidez em um setor altamente competitivo.

  • Prejuízo líquido ajustado: R$ 41 milhões, ante R$ 24 milhões esperados.
  • Geração de caixa livre: R$ 8 milhões, R$ 127 milhões abaixo da projeção.
  • Relação dívida líquida/Ebitda: 3,4 vezes, melhoria em relação às 4 vezes do 2T24.
  • Impacto tributário: despesas fiscais pesaram mais do que o projetado.

O Itaú BBA destacou que, apesar dos números operacionais sólidos, os resultados financeiros limitaram o potencial de valorização das ações no curto prazo. A corretora manteve a recomendação de outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 3, sugerindo confiança na recuperação de longo prazo.

Otimismo da Genial contrasta com o mercado

A Genial Investimentos, por outro lado, adotou uma visão mais positiva, reiterando a recomendação de compra com preço-alvo de R$ 6, bem acima do valor de mercado atual. A corretora destacou o crescimento de 15% nas reservas confirmadas, que atingiram R$ 4,1 bilhões, e a redução da alavancagem para 0,9 vez o Ebitda dos últimos 12 meses. Para a Genial, os resultados mostram uma operação robusta, especialmente no Brasil, onde a CVC mantém liderança no setor de turismo, e na Argentina, onde a expansão no segmento B2B tem impulsionado os números.

A corretora também apontou que a renegociação de contratos com fornecedores e a melhoria nas margens operacionais são sinais de uma gestão mais eficiente. Apesar do prejuízo, a Genial acredita que a CVC está bem posicionada para capturar a retomada do turismo pós-pandemia, especialmente em mercados internacionais.

Impacto no mercado e reações dos investidores

A forte queda das ações reflete a sensibilidade do mercado a resultados financeiros abaixo das expectativas, mesmo em um contexto de crescimento operacional. A CVC, que já enfrentou desafios durante a pandemia, vem buscando recuperar sua posição em um setor impactado por mudanças no comportamento do consumidor e pela inflação. A estabilidade no segmento B2C no Brasil, por exemplo, sugere que os consumidores estão mais cautelosos, optando por viagens mais curtas ou econômicas, enquanto o crescimento no B2B na Argentina indica uma aposta em parcerias corporativas.

Os investidores também reagiram à diferença de perspectivas entre os analistas. Enquanto o Itaú BBA foca nos desafios financeiros de curto prazo, a Genial enxerga um horizonte mais promissor, o que cria incerteza sobre o futuro do papel. A volatilidade das ações da CVC não é novidade, mas a queda de 15% em uma única sessão reacende debates sobre a sustentabilidade do modelo de negócios da empresa em um mercado tão dinâmico.

  • Fatores que pressionaram as ações:
    • Prejuízo líquido acima do esperado.
    • Geração de caixa livre fraca.
    • Piora no capital de giro no Brasil.
    • Expectativas de vendas mesmas-lojas mais fracas.

Cenário do turismo e perspectivas da CVC

O setor de turismo no Brasil vive um momento de retomada, mas com desafios. A demanda por viagens nacionais e internacionais cresce, impulsionada pela flexibilização de restrições pós-pandemia e pelo aumento da vacinação global. No entanto, a inflação e os custos operacionais elevados, como combustíveis para aviação, pressionam as margens das empresas do setor. A CVC, como líder de mercado, enfrenta concorrência de agências digitais e operadoras regionais, o que exige investimentos contínuos em tecnologia e marketing.

A operação na Argentina, embora em expansão, enfrenta um cenário econômico volátil, com desvalorização cambial e inflação alta, o que explica a queda no take rate. No Brasil, a estabilidade no segmento B2C reflete uma mudança no perfil do consumidor, que prioriza experiências locais e pacotes mais acessíveis. A CVC tem respondido com estratégias como a ampliação de canais digitais e parcerias com fornecedores, mas os resultados financeiros mostram que o caminho para a recuperação total ainda é longo.

Estratégias da CVC para o futuro

A CVC tem investido em iniciativas para fortalecer sua posição no mercado. A redução da alavancagem, que caiu de 4 vezes para 3,4 vezes o Ebitda, é um sinal positivo, indicando maior controle sobre a dívida. A empresa também tem focado em diversificar sua oferta, com novos pacotes de viagem e serviços personalizados.

  • Principais estratégias adotadas:
    • Expansão de canais digitais para vendas B2C.
    • Renegociação de contratos com fornecedores para melhorar margens.
    • Foco em mercados internacionais, como a Argentina, para diversificação.
    • Investimentos em tecnologia para competir com agências online.

Apesar dos desafios, a CVC mantém uma posição sólida no mercado brasileiro, com uma rede de lojas físicas e uma marca consolidada. A capacidade de adaptar-se às mudanças no comportamento do consumidor será crucial para os próximos trimestres.

Visão dos analistas e próximos passos

As divergências entre o Itaú BBA e a Genial Investimentos refletem as incertezas do mercado. Enquanto o BBA vê os resultados financeiros como um obstáculo imediato, a Genial aposta na recuperação operacional de longo prazo. A CVC, por sua vez, enfrenta o desafio de equilibrar crescimento com rentabilidade em um setor competitivo. Os próximos balanços serão cruciais para determinar se a empresa conseguirá reverter o prejuízo e recuperar a confiança dos investidores.

A volatilidade das ações da CVC deve persistir no curto prazo, mas o aumento nas reservas e a redução da dívida sugerem que a empresa está no caminho certo para uma recuperação gradual. O mercado agora aguarda sinais de melhoria no capital de giro e no desempenho financeiro para reavaliar o potencial do papel.

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Redação

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